Prof.
Dr. Reginaldo de Souza Silva
Coordenador
do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente-DFCH/UESB
Quatro décadas após o
dia18/05/73, quando no Estado do Espirito Santo, uma menina de 8 anos, chamada
Araceli, foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada (seu corpo
apareceu seis dias depois carbonizado) e os seus agressores, jovens de classe
média alta, nunca foram punidos. Institui-se esta data como o “Dia Nacional de
Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, Lei Federal
nº. 9.970/2000, mas infelizmente, a barbárie e situações absurdas de violência
contra crianças continuam a se repetir.
Gestores municipais e
estaduais, diretores e professores de instituições de educação, profissionais e
conselhos municipais/estadual dos direitos da Criança e do Adolescente;
Tutelares; de Assistência Social; Esporte e lazer; Saúde; Deficiência,
Psicologia, Policias civil e militar, Igrejas, o que tem feito? Não basta
repetir um dia no ano, uma palestra, um evento, um mini-curso etc. A realidade
não tem se modificado! O que Fazer? Conhecer para poder combater.
O abuso sexual envolve
contato sexual entre um adulto ou pessoa significativamente mais velha e com
poder com uma criança/adolescente. Pelas próprias características do seu
estágio de desenvolvimento, as crianças muitas vezes, não são capazes de
entender o contato sexual ou resistir a ele, e podem ser psicológica, afetiva
e/ou socialmente dependentes do ofensor. O abuso acontece quando o adulto
utiliza o corpo de uma criança ou adolescente para sua satisfação sexual. Já a
exploração sexual é quando se paga/explora para ter sexo com a pessoa de idade
inferior a 18 anos. As duas situações são crimes de violência sexual.
Já foi o tempo que o “Bicho
Papão” vinha na escuridão em lugares inseguros. A violência e o abuso estão em
todos os lugares, em todas as classes sociais. Como explicar tamanha barbárie?
Basta assistir vários programas televisivos e músicas que enaltecem a
malandragem, a corrupção, a sedução, mulheres (crianças e adolescentes)
“vendidas/apresentadas” como mercadorias, objetos sexuais e de prazer, em
novelas, shows, programas musicais etc.
No Brasil, a violência
sexual é a quarta violação mais recorrente contra crianças e adolescentes
segundo o Disque Direitos Humanos, (Disque 100). Nos três primeiros meses de
2015, foram denunciados 4.480 casos de violência sexual, representando 21% das
mais de 20 mil demandas relacionadas a violações de direitos da população
infanto-juvenil. No histórico das violações, de mar/2003 a mar/2011, foram
recebidas 52 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes,
sendo 80% das vítimas do sexo feminino.
Os casos de abuso sexual
estão presentes em 85% do total de denúncias de violência sexual. Este crime
ocorre quando o agressor, por meio da força física, ameaça ou seduz, usa
crianças ou adolescentes para a própria satisfação sexual. As denúncias de
violência sexual também envolvem casos de pornografia infantil, grooming (assédio
sexual na Internet), sexting (troca de fotos e vídeos de nudez, eróticas ou
pornográficas), exploração sexual no turismo, entre outros.
Em números absolutos entre
jan e mar/2015 registrou-se, São Paulo (737), Rio de Janeiro (404), Minas
Gerais (389) e Bahia (352) concentraram os maiores quantitativos de denúncias
sobre exploração sexual de crianças e adolescentes. Os menores registros foram:
Roraima (9), Amapá(12) e Tocantins(14)
Em relação ao perfil, 45%
das vítimas eram meninas e 20% tinham entre 4 e 7 anos. Em mais da metade dos
casos (58%), o pai e a mãe são os principais suspeitos das agressões, que
ocorrem principalmente na casa da vítima. As denúncias de violência sexual
contra crianças e adolescentes registradas em 2015 foram apenas uma parcela das
80.437 contra esta população.
Negligência e violência
psicológica são outras violações registradas. As meninas são as maiores
vítimas, com 54% dos casos denunciados. A faixa etária mais atingida é a de 4 a
11 anos, com 40%. Meninas e meninos negros/pardos somam 57,5% dos atingidos. Os
números são apenas a ponta de um iceberg, pois há um muro de silêncio em torno
desses casos de violência.
Em 2016, nos primeiros
quatro meses, 4.953 denúncias sobre exploração e abuso sexual de crianças e
adolescentes, em 2015, foram 6.203 denúncias. Estados com maior incidência: São
Paulo, (796), 16% do total nacional. Em seguida, a Bahia, com 447; Minas
Gerais, 432; e o Rio de Janeiro, com 407, (SDH, 2016).
A maior parte das vítimas é
do sexo feminino: 31% das denúncias indicam violência sexual contra
adolescentes de 12 a 14 anos, 20% das denúncias se referem a adolescentes entre
15 e 17 anos, e outros 5,8% de crianças entre 0 e 3 anos. Há relatos em todas
as faixas etárias.
Os suspeitos, em sua
maioria, são homens (60%). Grande parte das denúncias indicam casos que
aconteceram no ambiente familiar: os denunciados são a mãe (12,7%), o pai
(10,54%), o padrasto (11,2%) ou um tio da vítima (4,9%). Das relações menos
recorrentes entre o suspeito e a vítima são listados também: professores,
cuidadores, empregadores, líderes religiosos e outros graus de parentesco.
Precisamos: 1) dar a
conhecer o Estatuto da Criança e do Adolescente/90, aproximar Conselhos
Tutelares, de Direitos, Assistência Social, Saúde, as ONGs e Policias Militar e
Civil, dos profissionais da Educação e dos familiares de alunos. Dialogar com
o(a)s aluno(a)s; 2) Efetivar a implantação dos Planos Municipais de
Enfrentamento a violência sexual contra crianças e adolescentes, integralidade
das políticas públicas e posicionamento baseado nos princípios dos Direitos
Humanos.
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